domingo, 27 de fevereiro de 2011

Ponto de Vista sobre a Paisagem

Curitiba - PR (Foto Cássia Dias)
Bodensee - Austria (Foto: Cássia Dias)

Paisagem é um conjunto de fatores que podem ser naturais ou não. É determinada pela natureza, cultura, emoção e fatores sócio-econômicos do homem. Este termo é usado para caracterizar visuais e ambientes que podem ser naturais ou humanizados.

A paisagem natural é aquela obtida da natureza sem o toque humano. Enquadra modificações desde que sejam sofridas ao longo do tempo por fatores climáticos, pela temperatura e outros

A paisagem humanizada é aquela em que o homem modifica a natureza de acordo com suas necessidades em busca de retirar a cobertura vegetal para a construção de estradas, indústrias, roças e outros. A característica de uma paisagem depende da intensidade de modificações humanas podendo ainda ser classificadas como paisagens agrícolas, minerais, industriais e urbanas.

GEOGRAFIA - PAISAGEM- DEFINIÇÃO

Cusco- Peru (Foto: Ewerton Machado)


Por que ?

O estudo e a reflexão sobre os fenômenos geográficos nos leva a deduzir que a observação e entendimento da paisagem é o início ideal para que o estudante de Geografia consiga dar os primeiros passos na explicação e compreensão dos fenômenos da natureza e mesmo aqueles decorrentes da ação antrópica.


Origem

A primeira referência a palavra "paisagem" na literatura aparece no "Livro dos Salmos", poemas líricos do antigo testamento, escrito por volta do ano 1000 A.C. A "paisagem" se refere a bela vista que se tem de Jerusalém, com os templos, os castelos e palacetes do Rei Salomão. Essa noção inicial, visual e estética, foi adotada em seguida pela literatura e pelas artes em geral.


Atualmente

Atualmente, na linguagem comum, a paisagem é definida como "um espaço do terreno que se abrange num lance de vista" (dicionário Aurélio). Essa definição permite que a palavra paisagem tenha diversas conotações dependendo do contexto que esta inserida, e da atividade exercida pela pessoa que a usa, como por ex. agricultores, pintores, arquitetos, geógrafos, geólogos etc.


Paisagem - Conceito Geográfico

No âmbito da Geografia, a introdução do termo "paisagem" foi feita Pelo geo-botânico alemão Alexander Von Humboldt, no início do século 19, no sentido de, "característica total de uma região terrestre". Existem muitas definições para o termo paisagem, mas apesar de diferentes, existe entre elas um consenso, um ponto comum a todas, é a necessidade de se fazer uso do sentido da visão , isto é, à capacidade humana de enxergar determinada extensão de território ao nosso redor, constituído por um conjunto de elementos criados pela natureza e pelo homem.


Paisagem - Definição

É a extensão de território que se abrange num olhar ao nosso redor, constituída por um conjunto de elementos dinâmicos criados pela natureza e pelo homem.


Paisagem - Sua Dinâmica

A paisagem que observamos, naquele determinado lugar e momento, o resultado de uma combinação dinâmica – portanto, em movimento, em transformação – de elementos físicos, biológicos e humanos que, reagindo uns com os outros, fazem da paisagem um conjunto único e inseparável, em constante evolução.


Paisagem - Sociedade e Natureza

A observação e a interpretação da paisagem são o ponto de partida para o entendimento das relações entre sociedade e natureza, o que nos ajuda a compreender melhor o mundo em que vivemos. Afinal, os processos sociais moldam as diferentes paisagens na superfície da Terra, numa relação de intensa interdependência.


Paisagem - Reveladora do Social

A análise da paisagem que se vê é reveladora do social; por isso podemos afirmar que a observação da paisagem permite-nos interpretar os processos físicos, biológicos e humanos que nela estão impressos, constituindo-se um método para a compreensão das condições naturais e sociais vigentes num determinado lugar.


Paisagem - Reveladora do Social - exemplo

A observação de uma paisagem onde é visível o favelamento, tão comum nas grandes cidades é reveladoras dos processos socias ocorridos, como, o êxodo rural, o desemprego e má distribuição de renda. A construção das favelas transforma o ambiente natural de morros, rios, matas, alterando equilíbrios físicos e biológicos em prejuízo da própria condição da natureza e do homem.


Paisagem - Natural e Humanizada

A paisagem natural é aquela onde predominam os aspectos originais da natureza, tais como vegetação, recursos hídricos, relevo, clima e fauna. Enquanto que, a paisagem humanizada é aquela em que são visíveis os resultados e transformações da intervenção humana na paisagem. É a ação do homem que, no decorrer do tempo, transforma a paisagem natural em paisagem humanizada, deixando ali registrado a sua história.



Texto de: Prof. Renê Rodrigues de Moraes - Guarujá - SP -. Silvio - T4-S5-A2 - rev-jan-2006


Fontes de Consulta: [ http://jailton.tripod.com/capitulo2.html ] [ http://www.ceja.educagri.fr/por/agriculture/a5/lec1.htm ] Metzger,Jean Paul. O que é ecologia de paisagens ? - Biota Neutrópica - 2001 [ http://www.ceja.educagri.fr/por/agriculture/a5/lec1.htm ] [ http://www.igeo.uerj.br/VICBG-2004/Eixo3/E3_018.htm ]

HOMEM X CLIMA

 
Parque Inhotim - Brumadinho MG. (Foto: Cássia Dias)

Por: Cássia Dias

É notório que o clima pode ser afetado pela ação humana e vice e versa. A trajetória histórica do homem e o aumento acelerado do crescimento econômico em todo mundo, através do avanço tecnológico favoreceu ainda mais a influência exercida pelo homem ao clima.
Nesse sentido é relevante compreender as interações entre clima e o homem, destacando as formas como um pode afetar o outro, e sobretudo apontar a importância do clima no desempenho das atividades humanas no que diz respeito ao desenvolvimento ao desenvolvimento econômico de qualquer território, seja essa influência favorável ou não.
AYOADE, 1986, p.287 em seu texto “O Homem e o Clima”, aponta que talvez o clima seja o mais importante componente do ambiente natural, haja visto que devemos considerar a sua participação no modo de vida do homem desde sua existência, ou seja, os meios pelo qual o homem sobrevive e outros aspectos como moradia e vestuário estão ligados diretamente a dependência do que ele chama de “atributos do clima”.
Quando o homem exerce suas atividades produtivas ou não, ele é influenciado pelo clima em diferentes graus de atuação, e esta influência pode ser boa ou má.
Citando este autor “Concorda-se no geral que o clima pode ser considerado como recurso em ambos os aspectos [!], tanto benevolentes como malevolentes. Os efeitos benéficos, tais como a chuva,luminosidade, nebulosidade e vento, nas proporções próprias do tempo, lugar e intensidade ou quantidades devem ser sabiamente utilizados antes de serem considerados como bens gratuitos a serem desperdiçados. Os efeitos maléficos, tais como enchentes, secas, tempestades, vendavais, devem ser controlados antes de serem vistos como fatos inevitáveis.”.
Entende-se com isso que o clima visto como recurso deve ser planejado de forma racional para tanto os estudos sobre as diversas maneiras como o clima interfere nas atividades humanas e como essas atividades causam impactos sobre o próprio clima é campo da climatologia aplicada.
O controle e manejo do clima pelo homem, tem sido bastante discutido, haja visto que suas atividades feitas sem reflexão tem modificado e alterado de maneira cada vez mais rápida o clima e o tempo, os impactos são sentidos pelas sociedades, considerando que existe uma grande influência do clima sobre elas, e estes impactos podem ser de maior ou menor grau, dependendo da suscetibilidade de cada sociedade.
A vulnerabilidade ou a resistência de uma sociedade variam conforme alguns aspectos inerentes a ela, tais aspectos se enquadram, sobretudo na atividade econômica, que pode ser na maior ou menor dependência da variação dos fatores climáticos, o preparo, capacidade, estrutura e controle da tecnologia que ela detém.
O grau de uma sociedade está mais ou menos susceptível aos fatores climáticos não está relacionado à riqueza ou desenvolvimento dela, mas sim ao processo de transformação ocorrido pelas demais, isso provavelmente é de difícil compreensão, mas devemos lembrar que o desenvolvimento das sociedades modernas, não conseguem diminuir os impactos, de maneira global, haja visto a funcionalidade de seus mecanismos tradicionais.
A forma como o clima influência à vida do homem, pode ser examinada e vista da seguinte maneira. Na saúde física e mental, pois as funções fisiológicas humanas dependem e respondem as mudanças atmosféricas. Sua capacidade energética também está relacionada aos aspectos climáticos, pois o seu vigor e conforto físico depende de fatores como temperatura, umidade e vento. Sendo esta interferência por vezes positiva ou negativa. Extremos climáticos afetam diretamente a saúde humana, doenças de exaustão, câimbras por calor ou frio, choques térmicos, são mais comuns em locais de temperaturas extremamente elevadas e nos meses de estação secas, por outro lado doenças de enregelamento agravam males como artrite, sinusite, enrijecimento de juntas e ocorrem mais em locais de temperaturas extremamente baixas, principalmente no inverno, por sua vez ainda vemos incidência de inúmeras doenças respiratórias em regiões de clima onde o ar seco é considerável percentual de partículas de poeira.
Além dessas considerações, as atividades humanas, como: agricultura, pecuária, extrativismo, industria, transporte (deslocamento) e comunicações, comércio e turismo, entre tantas outras são fortemente influenciadas e determinadas pelas variadas formas como o clima se apresenta.
Assim, não há como negar que há interferência dos condicionantes do clima, no desempenho das atividades humanas. A lembrar que o clima também determina parcialmente os modos pelos quais construímos nossas moradias e nosso vestuário.
Oportunamente AYOADE (1986, p. 295) comenta “Infelizmente, os contatos culturais muito intensos têm levado recentemente a adoção de estilos de moradias e e escolha de matérias de construção que não estão em harmonia com as condições climáticas reinantes.”
Assim, consideramos que o impacto das atividades produtivas, exercido pelo homem ao clima acontece de duas formas: 1 - O homem modifica o clima propositalmente e inadvertidamente, quando transforma o ambiente através de desmatamento, poluição, urbanização, industrialização, que agridem o equilíbrio climático. o que denominamos de controle climático e 2 - nas mudanças da composição atmosférica devido a emissão de gases como CO2, derivado da queima de combustíveis fósseis, Ozônio e aerossóis.
A exemplo desse desequilíbrio temos como resultados os fenômenos como as Ilhas de Calor e a Poluição do Ar, sobretudo nas áreas urbanas, mais afetados por eles. Tais fenômenos causam situações indesejáveis como: aquecimento excessivo, inversões térmicas, germinação e florescimento antecipado de espécies vegetais, insolação e radiação ultravioleta em maior quantidade, aumento da umidade e nebulosidade, nevoeiros, menos frutificação das árvores, aumento da precipitação e das doenças relacionadas ao clima.
Sendo assim, é fundamental e imprescindível o reconhecimento do clima como recurso, de maneira que seja conhecido em seus diversos aspectos, características e processos atmosféricos, procurando ao máximo estabelecer e conhecer a fundo essa relação Homem – Clima, partindo de modo mais equilibrado e respeitoso. Seja em macro ou micro escala, o conhecimento do clima deve abranger diversos campos: áreas oceânicas, desertas, montanhosas, polares, tropicais, enfim um conhecimento científico amplo e detalhado.




“Ecossistema, termo proposto por Tansley (1934), é um conjunto constituído por um grupo de seres vivos de diversas espécies, e por seu meio natural, conjunto que é estruturado pelas interações que esses seres vivos exercem uns sobre os outros e que existem entre eles e seu meio”. Para Tricart (1979), “enquanto os geógrafos se preocupam com o ambiente ecológico, os ecologistas estudavam sobretudo as estruturas das biocenoses e a fisiologia da adaptação dos seres vivos a seu ambiente”.

“Nós definimos a paisagem individual como uma entidade morfológica-funcional, com uma célula somente ou com muitas células, feitas de elementos, fatores e fenômenos. Ela é formada basicamente por um determinado poder, um espaço definido e um certo tempo de vida” (Lopez & Lopez, 1986, p. 108).
Referem-se, respectivamente, às superfícies Pós-Gondwânica e Sul-Americana propostas por King (1956) para o Brasil Oriental, e adaptadas para o Centro-Oeste por Braun (1971).
Por espaços portadores de potencialidades naturais entende-se aqueles de baixa restrição morfológica (topografia apropriada principalmente ao emprego de mecanização) ou caracterizado por fertilidade natural, empiricamente indicado pela tipologia da cobertura vegetal.

SUBSÍDIOS GEOMORFOLÓGICOS AO ESTUDO DA PAISAGEM

Extraído de Geomorfologia e paisagem - Valter Casseti

Por resultar da combinação de diferentes componentes da natureza, o relevo é um importante recurso para a delimitação das paisagens, ao mesmo tempo em que quase sempre condiciona a forma de uso e ocupação do solo. Não se desconsidera aqui a apropriação tecnológica como componente de superação de eventuais obstáculos.
Considerando pelo menos três situações particulares, o significado do relevo na delimitação da paisagem pode ser justificado da seguinte forma:
• Relações de forças contrárias. O relevo, decorrente do jogo de forças internas e externas, leva à interpenetração de formas. Assim sendo, considerando as escalas temporais e espaciais, ora o relevo pode expressar mais as influências estruturais, ora os efeitos morfoclimáticos, ou ainda ambos, simultaneamente. A Chapada dos Veadeiros, em Goiás, se constitui num bom exemplo dessas combinações: enquanto os topos pediplanados, tanto da cimeira regional ( 1.300 m ) quanto intermontano ( 1.000 a 1.100 m ), representam efeitos associados a processos morfogenéticos secos, registrados provavelmente no Terciário3 , a extensa zona dissecada por processos morfogenéticos úmidos, correspondentes a períodos intermediários, reflete os efeitos da resistência litológica e das implicações estruturais, aliadas à tectônica proterozóica. Ao mesmo tempo em que se registram extensões consideráveis de superfícies erosivas conservadas (pediplanos) que cortam resistências litológicas variadas, em posições topográficas distintas, tem-se também sinclinais alçadas, cornijas estruturais, além de uma rede hidrográfica vinculada a processo de fraturamento, com direção geral NE e NW. Há, portanto, importante combinação de formas aliadas a fatores diferenciados, que ainda preservam a história geológica e climática, sobretudo pós-cretácica, ou mais especificamente, pós-oligocênica. O relevo acaba se constituindo no resultado dessas forças contrárias, razão pela qual se reveste de importância enquanto subsídio para a demarcação de diferenças morfológicas, com diferenças pedológicas e conseqüentemente relativas ao uso e ocupação do solo, numa perspectiva “possibilista”;
• Relações morfopedológicas. Muitos trabalhos têm demonstrado estreita relação entre a disposição do relevo e os solos resultantes, o que tem cada vez mais consolidado a morfopedologia enquanto disciplina, a exemplo do trabalho desenvolvido por Gerrard (1992). Enquanto nas áreas planas predominam os latossolos, portadores de alto desenvolvimento físico, nas áreas movimentadas prevalecem solos caracterizados por horizonte B incipiente ou simplesmente Solos Litólicos (Neossolos). O caráter edáfico, sobretudo nos solos autóctones, pode estar relacionado à estrutura subjacente, a exemplo dos Latossolos Vermelho-Escuros ou Roxos, geralmente associados a rochas básicas ou ultrabásicas, enquanto os Latossolos Vermelho-Amarelos quase sempre se associam às rochas ácidas (menor teor de ferro). Essa relação chega a exercer uma certa correspondência quanto à troca de bases: solos eutróficos, com troca de bases superior a 50%, considerados de fertilidade natural, e solos distróficos, com troca de bases inferior a 50%. Da morfologia representada por superfícies aplainadas, ou mesmo tabulares, para o domínio de formas aguçadas, registra-se a seguinte situação quanto ao desenvolvimento físico dos solos: Latossolos (Bw), Podzólicos ou Brunizéns (Bt), Cambissolos (B incipiente) e Solos Litólicos. Essa relação encontra-se, via de regra, determinada pelo balanço entre morfogênese e pedogênese, pois, enquanto em áreas tabulares prevalece a componente perpendicular (infiltração), nas fortemente dissecadas predomina a paralela (escoamento), numa estreita relação de tendência crescente com a declividade. Tais parâmetros oferecem sustentação ao processo de apropriação do relevo, insistindo na perspectiva possibilista;
• Relações antropomorfológicas. O processo de apropriação do relevo seja como suporte ou como recurso, vincula-se ao comportamento da morfologia e às condições pedológicas. Exemplo disso são as superfícies pediplanadas, superfícies erosivas tabulares e superfícies estruturais tabulares do sudoeste goiano, onde se registram manchas expressivas de Latossolos Roxos ou Latossolos Vermelho-Escuros, associadas ao desenvolvimento de cultivos. A tendência de uma apropriação induzida de espaços portadores de potencialidades naturais4 ocorre principalmente em áreas de expansão de fronteira, como na região de Alta Floresta, norte do Estado do Mato Grosso, onde se constata significativa ocupação, principalmente voltada à pecuária. O compartimento ou unidade geomorfológica regional acha-se individualizado pela Depressão Interplanáltica da Amazônia Meridional (Melo & Franco, 1980), caracterizado por processo de pediplanação intermontana, representado pelos Podzólicos Vermelho-Amarelos distróficos, com domínio de pastagens. Já, nas áreas fortemente dissecadas, como aquelas associadas às bordas do graben do Cachimbo, caracterizadas por extensa zona de cisalhamento (ortoarenitos do Grupo Beneficente), a ocupação é restrita, prevalecendo o domínio da Floresta Ombrófila. Tal relação não se dá de forma determinística, partindo do princípio de que a disponibilidade tecnológica, aliada à força do capital, seja capaz de superar eventuais obstáculos morfológicos. Como exemplo pode-se ressaltar a ocupação de antigos mangues em litorais mais adensados populacionalmente, ou mesmo de antigas planícies aluviais, como a Vila Roriz em Goiânia (Cunha, 2.000), hoje topograficamente alçada por depósitos tecnogênicos, responsáveis pelo alto custo socioambiental.
Não serão consideradas aqui relações entre famílias de formas e implicações estruturais, embora reconhecendo a existência de reflexos tectônicos e paleoclimáticos na morfologia atual. Com o intuito de reforçar o argumento do significado do relevo na delimitação da paisagem, apresenta-se, a título de exemplo de relação abiótica, correspondência entre a disposição morfológica e as características pedogênicas, independentemente do comportamento estrutural. (Fig. 6.2 )

Enquanto nas superfícies pediplanadas ou superfícies erosivas tabulares, associadas aos processos relacionados ao Terciário Médio, prevalecem os Latossolos “húmicos” (Fig. 6.2 ), nas rupturas de declive, periféricas ao pediplano, ou recobrindo as colinas convexas, registra-se a presença dos “Lixossolos” concrecionários com laterita, os quais dão sustentação ou preservam as formas que foram elaboradas em condições morfogenéticas secas. Nos compartimentos embutidos, relacionados a processo de pediplanação intermontana do Terciário Superior, reaparecem os latossolos húmicos, enquanto nas áreas mais dissecadas, como na porção inicial do perfil, predominam os litossolos. Assim, pode-se estabelecer uma estreita correspondência entre a disposição do relevo e o desenvolvimento físico dos solos relacionados ao jogo das componentes perpendicular e paralela. Enquanto nas formas tabulares predomina a componente perpendicular, que representa infiltração, aumento de intemperização e espessamento dos horizontes pedogênicos (balanço morfogenético negativo), nas formas aguçadas, em seções de forte dissecação, tem-se o desenvolvimento da componente paralela, com balanço morfogenético positivo, respondendo pelo adelgaçamento do horizonte pedogênico.
Gerrard (1992) mostra, através de modelo hipotético de nove unidades de uma vertente, adaptado de Dalrymple et al (1968), as relações morfopedológicas (Fig. 6.3 ).


O exemplo contribui para a justificativa do significado do relevo como subsídio à demarcação das unidades territoriais que caracterizam as paisagens diferenciadas, ressaltando a necessidade de se levar em consideração os parâmetros lembrados por Lopes & Lopez (1986): estrutura e composição (energia, matéria, vida, espaço e tempo) e funcionamento (leis físico-químicas, atividade das plantas, dos animais e principalmente a ação do homem).
Apresenta-se a seguir, exemplo de compartimentação realizada em dois níveis taxonômicos, com vistas à integração dos componentes da paisagem, em estudo de impacto ambiental em área de aproveitamento hidrelétrico, tendo o relevo como subsídio demarcatório da superposição de componentes abióticos e bióticos, possibilitando o uso diferencial dos recursos. Retoma-se aqui o conceito de “georrelevo” proposto por Kügler (1976), tomando-o como referencial tanto das relações geoecológicas quanto sociorreprodutoras.

A MORFOLOGIA DA PAISAGEM

Extraído de Geomorfologia e o estudo da paisagem. Valter Casseti

O conceito científico de paisagem “abrange uma realidade que reflete as profundas relações, freqüentemente não visíveis, entre seus elementos” (Tricart, 1978), diferindo da noção de paisagem no senso comum, que permanece puramente descritiva e vaga, referindo-se a conteúdo emotivo, estético, intrinsecamente subjetivo ao próprio fato. O conceito proposto por Deffontaine (1973) reforça essa abrangência, ultrapassando o suposto limite da aparência, assim definindo: “a paisagem é uma porção do espaço perceptível a um observador onde se inscreve uma combinação de fatos visíveis e de ações das quais, num dado momento, só percebemos o resultado global”. Para este autor, o estudo da paisagem, fisionômica e qualitativa, é o ponto de partida para a análise dos fatos numa perspectiva sistêmica, assimilando-a a uma “unidade territorial”. Troll (1950) sintetiza a paisagem como uma combinação dinâmica dos elementos físicos e humanos, conferindo ao território uma fisionomia própria, com habitual repetição de determinados traços.
Enquanto na língua inglesa o termo paisagem ( Landscape) não tem significado científico particular, em alemão, ao contrário, Landschaft é um termo erudito utilizado principalmente pelos geógrafos (Tricart, 1978).
O conceito de paisagem ( Landschaft ) surge na segunda metade do Século XIX com os geógrafos físicos alemães, na mesma época em que W.M .Davis publicava os principais elementos de sua teoria. A partir do século XX o termo passa a ser utilizado de forma corriqueira entre os geógrafos alemães para designar aspectos concretos da realidade geográfica.
Dentre os precursores dos estudos integrados da paisagem destacam-se Passarge (1912, 1922), que utilizou pela primeira vez o conceito de “fisiologia da paisagem”; Tüxen (1931, 1932), que se apropriou de uma abordagem geossistêmica no estudo de paisagem, até então não incorporada a essa noção; Büdell (1948, 1963), que através das relações climatogenéticas consolidou os estudos de geoecologia e ordenação ambiental do espaço; Kalesnik (1958), que propôs metodologia para o estudo integrado da Landschaft- esfera (integridade da Landschaft- esfera, processos circulares da matéria, transformações rítmicas, zonalidade e continuidade da evolução), além de outros.
A discussão entre paisagem e ecologia estimulada por Tricart (1979) resgata o trabalho de Deffontaine (1973) que se manifesta numa abordagem sistêmica. Para o autor, paisagem e ecossistema, tratam de “naturezas” diferentes1 : “paisagem é originalmente um ser lógico espacial, concreto; apenas tardiamente ela adquiriu a dimensão lógica de um sistema”. Ao contrário, o ecossistema é, desde seu nascimento, um componente lógico, caracterizado por uma estrutura de sistema, que por não ter dimensão e não ser espacializado, não é concretamente materializável.
A “ecologia da paisagem” surge com Neef (1967) na Sociedade Geográfica da República Democrática Alemã, dando ênfase aos estudos biogeográficos. “O estudo prossegue segundo uma pesquisa de caráter ecológico, que é ao mesmo tempo um estudo de dinâmica das paisagens, no sentido em que visa determinar o funcionamento do ecossistema, como fazem tradicionalmente os ecologistas, mas localizando cuidadosamente sobre o transeto, portanto sobre o espaço, todos os fluxos encontrados e a localização dos estoques de elementos estudados” (Tricart, 1979). Nessa linhagem destaca-se o trabalho de G. Bertrand (1975), apoiado na teoria biorresistásica de H. Erhart (1956). Bertrand (1968, p. 249) entende que “o conceito de ‘paisagem' ficou quase estranho à geografia física moderna e não tem suscitado nenhum estudo adequado”. Alia-se às relações entre o potencial ecológico, exploração biológica e a ação humana na caracterização da paisagem global. Como referenciais básicos destacam-se os trabalhos de Erhart (1956), representados pela teoria biorresistásica e suas derivações, a exemplo do balanço denudacional de Jahn (1954), ampliado por Tricart (1957), incorporando o conceito de “balanço morfogenético” que culmina no estabelecimento dos diferentes “meios”, considerando a dinâmica da paisagem, como sistema de classificação (Tricart, 1977).
O estudo da paisagem numa abordagem biofísica foi desenvolvido por Huggett (1995), retomando alguns conceitos desenvolvidos por Mattson (1938), expresso através de interessante esquema referente à interpenetração das esferas terrestres ( Fig. 6. 1), utilizando-se de uma perspectiva sistêmica. O autor preocupa-se com a sistematização das relações processuais que culminam no conceito de “geoecologia”.


Desde os tempos em que os geógrafos conseguiram explicar a gênese da paisagem, fizeram dela um domínio especializado (Juillard, 1965). Contudo, os avanços epistemológicos fundamentados numa perspectiva crítica valorizaram o conceito de “espaço” em detrimento ao de “paisagem”, partindo do princípio de que “paisagem é o conjunto de formas que, num dado momento, exprimem as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre homem e natureza. Santos (1996, p. 83), ao evidenciar a abrangência do significado de espaço como objeto de estudo da geografia, em detrimento da noção de paisagem, enfatiza que “a paisagem é apenas a porção da configuração territorial que é possível abarcar com a visão”, sendo portanto “um sistema material e, nessa condição, relativamente imutável; o espaço é um sistema de valores, que se transforma permanentemente (...) o espaço são essas formas mais a vida que as anima”.
Avalia-se que os avanços metodológicos proporcionados pelo conceito de paisagem, registrados ao longo do tempo, possibilitaram a análise integrada dos componentes biofísicos e socioeconômicos, denominada de “estruturação da paisagem”, importante instrumental no processo da compartimentação. O resgate conceitual inserido na noção de estruturação da paisagem, surgido nos últimos anos, parte do interesse direto da Geografia Física na busca de alternativas metodológicas. Dentre os estudos referentes à estruturação da paisagem no Brasil, destacam-se os de Mattos (1959), para a região da Baixa Mogiana; de Monteiro (1962), para o Baixo São Francisco; de Abreu (1973), para o Médio Vale do Jaguari-Mirim, dentre outros, que procuram oferecer subsídios à compartimentação, baseados nas teses oferecidas pela geomorfologia ou pela climatologia.
Os avanços, embora incipientes, dos estudos de paisagem, enfrentam a pecha “mecanicista” atribuída pelos epistemologistas críticos. Bertrand (1968, p. 250), ao refutar as críticas, procura encerrar a discussão conceituando paisagem como “determinada porção do espaço, o resultado da combinação dinâmica, portanto instável, de elementos físicos, bióticos e antrópicos que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem da mesma um conjunto único e indissociável, em perpétua evolução”.
A preocupação com as variáveis que integram a natureza, bem como com os resultados da apropriação desta pelo homem, tem cada vez mais merecido atenção dos estudiosos, partindo do princípio de que o ambiente deve ser entendido na sua integridade. A visão holística da natureza tem sido uma preocupação histórica, sobretudo entre os biogeógrafos.
Importante iniciativa, como a registrada no Simpósio de Landschaftssynthese , organizado por H. Richter & G. Schönfelder, em 1985, na Universität Halle-Wittenberg, República Democrática Alemã, merece destaque por contribuir para a retomada do conceito de paisagem. A Landscape Synthesis tem proporcionado novas discussões, voltadas principalmente às questões de natureza ambiental. Trabalhos como o de Lopez & Lopez (1986) sugerem o estudo da functional-morphological2 como fator de compartimentação da paisagem geográfica. Após apresentarem, de forma rápida, a histórica separação entre processo e forma, enquanto critério de demarcação da paisagem, consideram a variável “relevo” como importante subsídio para o estudo da paisagem. Para a individualização da paisagem ressaltam aspectos da estrutura e composição (energia, matéria, vida, espaço e tempo), e do funcionamento (leis físico-químicas, atividades das plantas no meio abiótico, atividades instintivas dos animais e formas de apropriação pelo homem). Destacam ainda as características intrínsecas dos elementos da paisagem como componentes da análise: natureza da rocha, clima, poder orogênico, vida das plantas, dos animais e dos homens, evidenciando os efeitos antropogênicos nas transformações da natureza, na perspectiva de tempo histórico. Também Tricart (1979) trata o relevo como um elemento importante da paisagem. Observa que na América do Sul normalmente os tipos de meio natural encontram-se associados à noção de relevo e vegetação, e em torno desses dois elementos nodais, uma série de implicações são dirigidas ao clima, aos solos e à inserção do homem no meio ambiente.
O conceito de paisagem, como fator de integração de parâmetros físicos, bióticos e socioeconômicos, tem sido utilizado em estudos de impactos ambientais em diferentes empreendimentos, com importantes resultados, o que leva necessariamente ao reconhecimento da vulnerabilidade e potencialidade da natureza, segundo os diferentes táxons. Busca-se portanto, a compreensão integrada dos componentes da análise. O conceito de “vulnerabilidade” volta-se aos fatores de natureza física e biótica, considerando a suscetibilidade dos referidos parâmetros em função do uso e ocupação, enquanto o de “potencialidade”, na perspectiva de Becker & Egler (1997), refere-se às condições de desenvolvimento humano em suas diferentes dimensões (potencial natural, potencial humano, potencial produtivo e potencial institucional).
Com base no tratamento dado por diversos autores para o problema, a partir da integração das informações produzidas, procura-se apresentar uma síntese da estruturação da paisagem, utilizando-se do conceito de Dollfus (1972), sintetizando o número de arranjo entre as variáveis naturais (físicas e bióticas) e as alterações humanas. Com o objetivo de se promover a integração prevista, subsidiada pelos compartimentos geomorfológicos, busca-se a compreensão da paisagem em sua integridade.
Como forma de se ressaltar o significado do relevo na abordagem do estudo da paisagem serão analisadas as variáveis que refletem diretamente nas relações socioeconômicas, considerando a vulnerabilidade dos componentes temáticos, físico e biótico, para em seguida integrá-los na perspectiva de Schmithüsen (1970), segundo a qual “se quisermos compreender a ação do homem, não devemos separar a sociedade do meio ambiente que o rodeia”.

Geógrafo/a Paisagista? - Porque Não?


Por Cássia Dias

Geógrafa Paisagista


Em seu trabalho “Considerações sobre o Conceito de Paisagem”, a geógrafa Liz Maximiano comenta e nos faz lembrar que “a formulação de um conceito de paisagem ocorreu ao longo de muito tempo, começando a se manifestar mais claramente a partir das observações de pintores, artistas e poetas, tanto do Oriente quanto no Ocidente”.

Essa visão inicial sobre a paisagem debruçava-se numa ótica romântica, que foi aos poucos ganhando caráter científico. A partir de geógrafos naturalistas e sistemáticos como Alexander von Humboldt e Carl Ritter que trouxeram a tona à compreensão da paisagem como o resultado de uma complexa interação entre homem e natureza, sobretudo para a Ciência Geográfica que se instituía como saber científico no início do século XIX, essa reflexão serviu de suporte aos estudos que se iniciavam e trouxe de vez o abandono da idéia de que a Paisagem de contemplação vista como hostil na Antiguidade, e que a muito foi motivo para a construção de jardins fechados de lazer, status social da burguesia européia, único pensar concebido até então.

Em história do Paisagismo, ou melhor, na história dos jardins, vemos que a paisagem dominada traço marcante do período clássico, carregado da idéia de que a natureza deveria ser dominada e prevaleciam os modelos de jardins rígidos, com excessos de topiaria, planificação do terreno, elementos construídos, estufas climatizadas, e outros elementos que retratam a forte intervenção humana na paisagem, deixa evidente a necessidade de conhecimento e de um saber científico extremante apoiado para esses jardins, foi uma necessidade e, é notório que nesse período o avanço do conhecimento cientifico em todas as áreas do conhecimento foi grande.

Partindo do pressuposto da importância das relações humanas com o meio natural, seja para uma compreensão científica ou contemplação estética da paisagem, tanto a geografia como o paisagismo, contribuem devidamente.
Dessa forma porque delegar o Paisagismo como atividade profissional, apenas a outro campo do saber, como a Arquitetura? Uma vez que outros profissionais e não me refiro exclusivamente Geógrafos, mas também outros profissionais, como a exemplo engenheiros florestais, agrônomos, biologos e tantos outros profissionais interessados em compreender e conhecer a paisagem, também possam contribuir desde que estejam aptos a exercer a atividade, enquanto profissional dedicado a profissão.

A visão de Paisagem para o geógrafo é uma contribuição inestimável ao Paisagismo e não pode nem deve ser desmerecida, funcionalidade e estética juntas, uma vez que não se trata de separar, mas de reunir conhecimentos. O geógrafo com sua visão espacial, contribui com interprestações técnicas das mais relevantes em torno das relações do homem e o meio, e sobremaneira das especificidades de suas disciplinas, como a exemplo da Biogeografia, que busca compreende Biomas, ou a Geomorfologia, que vai compreender a morfologia, topografia e dinâmica da paisagem natural e suas intervenções, ainda a Climatologia e a dinâmica atmosférica, a Percepção da Paisagem e o habitat, ou ainda as disciplinas de Meio Ambiente as quais questionam e buscam compreender a sustentabilidade e a recuperação da paisagem e ambientes Degradados, entre tantas outras contribuições, estabelecidas no espaço urbano ou rural. O Paisagista deve fazer uso de tais interpretações e conhecimento, com fins executar de maneira, mais prática e apropriada o layout da micro e macro paisagem, considerando aspectos naturais e intervenções que sejam mais adequadas ao meio ambiente, selecionar espécies vegetais mais indicadas a determinado espaço e lugar e assim por diante concomitantemente levando em conta as necessidades do cliente e outras funções como por a estética. Assim a dimensão da paisagem também é considerada, e mesmo pequenos jardins, podem se valer do conhecimento geográfico, para sua eficácia e bom desenvolvimento.
Dessa maneira considero as atribuições e formação do geógrafo um profissional habilitado a exercer atividades de paisagista, ou seja, Geógrafo/a Paisagista? Porque Não?
Seria muito mais apropriado dizer:
- Geógrafo Paisagista! Sim, tem muito a ver!

Fonte citada:
MAXIMIANO, L.. CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONCEITO DE PAISAGEM. RA'E GA - O Espaço Geográfico em Análise, América do Sul, 8 3 05 2005.