segunda-feira, 25 de abril de 2011

RESPONSABILIDADE AMBIENTAL NO PAISAGISMO


Por Cássia Dias
Geógrafa Paisagista

Quando ouvimos ou mencionamos os termos: Paisagismo ou Projeto de Paisagismo, logo nos vem à mente e idéia de espaços jardins projetados com responsabilidade ambiental, e chega a ser muito comum, associarmos automaticamente à qualidade de vida, melhorias das condições sócio-ambientais e muito verde, ou seja, o termo “Paisagismo” encerra em si a idéia de concepção ambiental ecologicamente correta. Todavia essa concepção só terá validade à medida que for aplicada devidamente, ou seja, quando o projeto de paisagismo for desenvolvido e implantado com responsabilidade ambiental, levando em conta idéias e medidas de sustentabilidade que vão desde o reaproveitamento e obtenção de novos matérias, minimizando o desgaste e a exploração dos recursos naturais, quanto à busca de soluções e melhoramentos de consumo energético e hídrico.
Dentro dessa ótica torna-se necessário que a proposta de paisagismo ou criação de áreas verdes planejadas, sejam elas de maior ou menor porte, estejam em acordo e disponham de alguns “princípios ecológicos” de conhecimento técnico-científico dos elementos que o envolvem e na busca de soluções mais sustentáveis, que vá além do desejo de composição estética e de lazer dos interessados e proprietários. Assim, o projeto de paisagismo terá verdadeiramente “validade” e caráter ambiental e responderá com um bom desenvolvimento, harmonia e economia, ao qual trará benefício à todos.  
De uma maneira geral o projeto de paisagismo é definido a partir de três pontos iniciais principais: A situação local do ambiente; as necessidades estéticas e funcionais do projeto, e os recursos disponíveis. Uma vez considerada as medidas ecológicas e a sustentabilidade, o primeiro nos coloca diante do entorno e do ecossistema local como ponto de partida para uma leitura preliminar do ambiente em questão, e seja qual for o partido plástico, ou proposta conceitual aplicada ao mesmo, expressará a lógica com o ecossistema ao qual faz parte.

Um jardim harmonioso não é só aquele em que os elementos de seu espaço delimitado e restrito estão em acordo com a proposta conceitual, mas, aquele em que a proposta de uma maneira geral priorizou o entorno e ecossistema a qual está inserido como parte da linguagem da paisagem. Os jardins criados a partir desse princípio iniciam-se de maneira ecologicamente viável, e transportam a paisagem de fora para dentro do jardim, tornando-o mais atraente. A paisagem e o jardim demonstram fazer parte de um mesmo contexto e aumenta a sensação de maior dimensão física, bem como sua harmonia, beleza e prazer ao ser contemplado.
Já as necessidades estéticas e funcionais, pensada juntamente e em acordo com os recursos disponíveis naturais a partir do solo, disponibilidade de água, energia, uso de insumos, variedade vegetal, entre outros, e os recursos financeiros disponíveis indispensáveis, serão melhores aplicados quando priorizam princípios ecológicos. É notoriamente comprovado à minimização de manutenção, do uso de recursos e do consumo de água e energia quando se tem o cuidado de tomar medidas sustentáveis, como a exemplo do reaproveitamento e inserção de materiais novos sustentáveis, que trazem benefícios diversos de curto, médio e longo prazo.
Raras vezes o projeto de paisagismo será “ecologicamente correto” em sua totalidade, sobretudo quando se tratar de preferências e costumes culturais, mas é fundamental não perder de vista a necessidade de aplicar ao máximo possível, medidas “ecologicamente corretas”, viáveis e eficazes na criação de jardins ou recriação da paisagem. É relevante lançar mão de soluções mais apropriadas no desenvolvimento do projeto em que a responsabilidade ambiental de cada profissional seja notória e proporcional ao sucesso de seu produto, o jardim ecologicamente falando.
Sendo assim cabe aqui destacar algumas medidas e “princípios ecológicos que devem ser levados em conta na elaboração do projeto, construção do jardim e áreas verdes, e fazem a grande diferença no final do projeto de paisagismo ecológico consolidado.

PRINCÍPIOS MITIGADORES QUANTO AO RECURSO DO SOLO:
  1.  Conhecer a natureza e tipo do solo com fim determinar o melhor uso do terreno, indicar as espécies vegetais adequadas e intervir corrigindo quando necessário: solos pobres em nutrientes, ácidos, salinizados, ou de estrutura friável susceptível a erosão ou quando for identificado qualquer outro problema;
  2. Estar atento e observar indicadores naturais de qualidade do solo na análise inicial quando existentes no local como direcionamento a medidas de intervenção;
  3. Averiguar desníveis do terreno, a inclinação acentuada de taludes pode vir a ser um fator exponencial de erosão, (lembrar que a ocupação de áreas inclinadas deve está em acordo com a legislação);
  4. Identificar processos erosivos possíveis e/ou em andamento, propor contenção sempre que se fizer necessário, com fins evitar a perda de solo e danos ao terreno;
  5. Apontar solução para solos rasos, solos desnudo, e solos pobres: como a exemplo da  adição de nova camada de solo, introdução de substrato adicional com adubos orgânicos, oferecer opção de cobertura para acabamento: forrações verdes, gramas, casca de árvores, cascalho, pedriscos, serrapilheras.
  6. Averiguar drenagem do terreno: distribuição da água conforme a estrutura do solo, infiltração e terrenos encharcados. Solos secos, e/ou encharcados requerem atenção e medidas de controle (adição de matéria orgânica p/ solos secos, adição de areia para solos encharcados ou drenos).
  7. Lembrar a fragilidade de terrenos em relação a raízes agressivas de plantas existentes ou introduzidas;

PRINCÍPIOS MITIGADORES QUANTO AO MEMORIAL BOTÂNICO:
  1. Fazer uso adequado das espécies vegetais introduzidas; e manter as espécies existentes desde que em conformidade com o ecossistema local;
  2. Respeitar as necessidades fisiológicas das plantas quanto ao solo, adubação, consumo de água e nutrientes, ciclo vegetativo e necessidades de insolação (sol ou sombra), 
  3. Priorizar espécies nativas na maior parte do projeto;
  4. Introduzir variedades vegetais diversas, quanto maior a diversidade vegetal, menor a ocorrência de pragas e doenças;
  5. Fazer uso de produtos orgânicos na luta de combate a pragas e doenças;
  6. Evitar espécies exóticas dominantes em detrimento a espécies nativas que competem entre si, em
  7. Evitar espécies exóticas tóxicas e alergênicas, que possam comprometer e/ou competir com flora e fauna locais;
  8. Optar por espécies vegetais que assumam função de conforto ambiental, bem como de consumo direto, como frutíferas, ervas medicinais e ervas aromáticas;
  9. Valorizar espécies em risco de extinção;
  10. Priorizar espécies vegetais perenes à espécies de ciclo curto, tipo anuais;
  11. Respeitar o porte das espécies, locando-as de maneira adequada no ambiente; nunca posicionar espécies de maior porte embaixo de sacadas, beirais varandas etc;
  12. Imitar a natureza sempre que possível com sabedoria e conhecimento, essa idéia ocorre da premissa de que a "Natureza sabe melhor", e devemos procurar imitar os processos naturais, quando nós trabalhamos para restaurar ecossistemas degradados e os habitat’s. 
13.   Utilizar espécies pioneiras e sucessão natural em áreas de recuperação, quando necessário para facilitar o processo de restauração de um bioma ou ecossistema.
14.   Remover espécies exóticas invasoras que tendem a ser agressivas com as espécies nativas locais; causando competição, danos e desequilíbrio a dinâmica natural;
15.   Introduzir sistema de compostagem adequada sempre que possível, seja em maior ou menor escala, de acordo com as necessidades do projeto e espaço físico;
16.   Uso de árvores frutíferas que atraiam aves e animais que ajudem no controlo de pragas.
17.   Atentar para as espécies caducifólias em relação á: 1 - forrações herbáceas que exijam sombreamento podem sofrer no período de perda das folhas das árvores caducas; e 2- distanciamento ideal de espécies caducas, mais afastadas de corpos hídricos naturais ou artificiais, o material orgânico como folhas na água, podem alterar a qualidade e exigir maior manutenção. À exemplo de lagos, fontes, espelhos d’água, piscinas sujos e/ou com excessos de matéria orgânica na água. 

PRINCÍPIOS MITIGADORES QUANTO AO USO E INTRODUÇÃO DE MATERIAIS.
1.       Reunir conceitos de design sustentável, materiais ecológicos, eficiência energética de baixo consumo;
2.       Buscar sempre que possível o reaproveitamento de materiais existentes no local ou em abundancia na região (madeiras, pedras etc);
3.       Usar produtos de certificação ecológica tanto no que diz respeito à extração quanto a sua produção;
4.       Usar tanto quanto possível recursos locais disponíveis e renováveis, com fim evitar a poluição e o desperdício.
5.       As movimentações tanto de retirada como de incorporação de matérias devem-se realizar com fins melhorar o solo original e sua estrutura morfológica.
6.       Re-criar nichos ecológicos onde se perderam, co a exemplo de árvores mortas e troncos caídos, que fornecem o habitat para muitos invertebrados, fungos, anfíbios, mamíferos e aves favorecendo a regeneração e manutenção do ambiente. Troncos caídos agem como esponjas absorvendo água e contribuir para uma mais úmida, microclima mais resistentes à seca.
7.       Usar materiais que promovam sustentabilidade;

PRINCÍPIOS MITIGADORES QUANTO A ECONOMIA E CONSUMO DE ÁGUA E ENERGIA
  1. Prover as necessidades de água, através de irrigação, ou regulada pelos períodos sazonais de maior ou menor pluviosidade;
  2. Monitorar a conservação de água e do ambiente;
  3. Fazer uso de mecanismos de captação de águas pluviais, em cisternas ou reservatórios para usos gerais no jardim, seja na irrigação ou abastecimento de fontes, lagos e espelhos d’água poupando a água da rede e/ou subterrânea;
  4. Ter sempre cuidados com a qualidade da água usada no jardim, como forma de manter a fauna e flora, sobretudo na função de fontes e lagos;
  5. Fazer uso de medidas que minimizem o consumo de água nos bosques e jardim, evitando a evaporação extrema nos canteiros, como por exemplo, não deixar o solo desnudo ou descoberto;
  6. Fazer uso de indicação luminotécnica adequada conforme o ambiente sem exageros no número de pontos de energia com fins minimizar desperdícios,
  7. Usar lâmpadas frias de menor consumo energético, bem como luminárias e painéis solares sempre que possível;


 


3 comentários:

  1. Ótimo post! Precisamos mesmo de uma revolução cultural quanto ao significado do paisagismo. Há que se educar mercado, fornecedores, clientes....!

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